É possível mudar?

Pra começar, eu quero dizer que eu acho completamente possível que um usuário de drogas se recupere e volte aos padrões de ‘normalidade que a sociedade estabelece!”

Há solução para tudo e todas as pessoas são capazes de mudar e de recomeçar, desde que queiram e tenham alguém que as apóie, alguém que segure suas mãos e diga que vai dar tudo certo.

Então, se você tem um namorado, um marido, irmão, amigo que usa drogas, eu realmente te aconselho a não desistir sem tentar. Mostre pra ele que mudar é possível desde que ele queira. Agora se ele não quer mudar, eu realmente te aconselho a cuidar de você. Por que caso contrário, você não conseguirá cuidar de mais ninguém!!

Eu realmente tive um namorado usuário de drogas, hoje não estamos mais juntos, mas tudo o que passamos em quase três anos de relacionamento serviu pra me fazer crescer e entender que todas as pessoas têm algo bom a nos oferecer.

Quando eu comecei a namorar, eu não sabia que ele  usava drogas. Na verdade, eu sabia sim. Ele estava internado em uma clínica de reabilitação e a idéia que ele me passava é que estava completamente LIMPO (sem usar nada) e determinado a me oferecer o relacionamento que eu sonhava.

Nós sabemos que quando uma pessoa usa drogas, há muito mais a ser tratado que apenas o vício. Há uma mudança de caráter, de personalidade, de locais freqüentados e principalmente de companhias.

Quando completamos um mês de namoro ele  saiu da clínica (ele tinha passado 9 meses lá) e ele estava super empolgado, falava em estudar, se formar, casar, ter uma família... Tudo o que eu, a família dele e acho que até ele mesmo sonhávamos... Mas exatos 10 dias depois ele procurou um dos amigos que andava anteriormente e acabou se drogando novamente.

Nesse dia, eu pude perceber que pra realmente haver uma mudança na vida de um usuário de drogas, ele tem que querer mudar!A família e os amigos, podem até ajudar, mas a iniciativa tem que partir dele mesmo. E naquele momento – embora não sem dor – eu pude perceber que ele não tinha mudado ainda...

Após esse episódio, ocorreram vários outros, onde ele sempre dizia que tinha sido a última vez e que não ia mais acontecer... Eu perdoava, fingia esquecer mas eu acho que no fundo, eu já me preparava para o próximo episódio... E assim nossa história foi caminhando. Eu oferecia apoio, o chamava para is aos encontros do Narcóticos Anônimos (que é uma organização excelente e com pessoas totalmente habilitadas para nos apoiar), para ir a igrejas, clínicas, psicólogos, eu oferecia várias alternativas, mas ele sempre dizia que não queria, que não precisava, que tinha mudado e se arrependido, mas nos final das contas, as coisas acabavam se repetindo.

Eu nunca o abandonei, porque eu acreditava na mudança dele, acreditava no potencial que ele tinha e mais ainda, era amor que eu sentia por ele.

Até que teve um dia que ele virou pra mim e disse: “Olha, eu não quero mais continuar com você, porque quando estamos juntos eu não posso me drogar...” 

E eu fiquei sem reação, sabe porque? Porque a gente  sonha com a transformação da pessoa, busca alternativas para que a pessoa mude, mas esquece que NINGUEM MUDA SE NÃO QUISER. E naquele momento, ele não queria, por mais que ele dissesse que mudaria.  Porque falar é fácil, mas a gente não sabe como as pessoas são. A gente não sabe o que passa no coração e na cabeça das pessoas.

E foram quase três anos de muita luta, eu lutava, minha família lutava, a família dele também lutava mas ele não queria mudar. Eu cheguei a ficar noiva mas houve um momento em que eu simplesmente não dava mais conta de tantos sumiços, tantas brigas, tantos dias sem saber por onde ele andava ou com quem estava, tantas traições (porque quando a pessoa se droga, ela perde inclusive os padrões de qualidade, de relacionamentos, de família)  e resolvi (com muita dor) terminar meu relacionamento.

E nos meses que seguiram, eu senti falta dele todos os dias da minha vida, eu dormia a acordava pensando nele, só que não faz sentido você dormir e acordar pensando em alguém que não dorme e acorda pensando em você...

[ continua...]